quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Considerações sociológicas sobre o trabalho


                A respeito das primeiras atividades econômicas do ser humano, há concordância de que houve duas fases, uma primeira marcada pelo nomadismo (caça e coleta) e outra pelo sedentarismo (produção). Aliás, com o sedentarismo, começam as grandes civilizações da antiguidade como China, Egito, Mesopotâmia, Índia, Grécia, Arábia e Roma.

                Durante o período nômade, caracterizado pela economia coletivista, o trabalho e o produto tinham caráter comunitário, explica Celso Antônio Pinheiro de Castro, em Sociologia Aplicada à Administração (p. 26).

                O antropólogo polonês Bronislaw K. Malinovski analisou os trobriandeses, um povo da Nova Guiné, nos quais se tenta reconstruir a atividade econômica característica do nomadismo. Malinovski, assevera Castro, constatou a importância do parentesco e da chefia.

                Os trobriandeses trabalhavam comunitariamente, com cooperação obrigatória dos parentes. Os que conheciam a tarefa produtiva eram os “chefes”, já os auxiliares, aprendizes. O ritual religioso também estava presente durante o trabalho, servindo como motivação.

                Para os trobriandeses, conta Castro, havia três tipos de trocas: a-) entre pais e filhos, marido e mulher (sem retribuição); b-) mediante pagamento (retribuição de bens econômicos); c-) troca por privilégios ou títulos (retribuição de bens não econômicos).

                Com  a sedentarização, a economia de produção propicia o surgimento de classes sociais, havendo profundas mudanças operacionais e estruturais. O trabalhador deve produzir para suprir não só as suas necessidades, mas também às necessidades do proprietário.

                O trabalho outrora cooperativo passa a ser competitivo. Com a primeira revolução industrial, houve a introdução da máquina, que substituiu a força física, dividindo as divisões operacionais do trabalho.

                A partir de 1870, começou a surgir uma estrutura de controle que separava operários dos proprietários, instaurando-se uma divisão entre planejamento, controle, gerência e execução, narra Castro.

                Porém, já no século XX, a partir de 1970, as inovações científicas principalmente na eletrônica e tecnologias de comunicação fez com que as máquinas (computadores) substituíssem, inclusive, a força mental.

                Porém, o que é o trabalho? “O trabalho é uma ação cujo resultado se incorpora ao objeto. No entanto, ressalte-se que até as tarefas simples, mecânicas e repetitivas são produtos de inteligência”, ensina Castro. “A inteligência é o que distingue o homem dos animais, o trabalho humano dos atos instintivos dos animais. O trabalho humano retrata, incorpora, manifesta a racionalidade humana.”

                O conceito de trabalho e o trabalho em si foram influenciados pelo capitalismo. A revolução industrial do século XVIII, na Inglaterra, deu origem à sociedade do trabalho.

                Em termos de economia moderna e contemporânea, trabalho é apenas um dos fatores da produção, cujos demais são natureza, capital, empresa e técnica.

                Posteriormente, com as influencias tayloristas, distinguiu-se o trabalho em duas vertentes: “o mental, dos administradores e, num plano inferior, segundo Taylor, o manual, dos operários, restrito ao cumprimento das ordens”. Assim, a ciência e a tecnologia tornam-se a principal força produtiva, em vez do trabalho, explica Castro.

                Esquematiza Castro (p. 64): “O trabalho braçal manifesta-se em movimentos exteriores, como, por exemplo, operação de máquinas, manuseio de instrumentos. O trabalho intelectual manifesta-se no produto, como, por exemplo, programa, projeto, obra literária.”

                Devido aos avanços tecnológicos, não basta só a competência, mas também a comprovação escolar dela, lembra Castro (p. 65).
Leia mais:

CASTRO, Celso Antônio Pinheiro de. Sociologia Aplicada à Administração. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sociologia Aplicada à Administração



            O objeto de estudo da Sociologia são as relações sociais. O social, domínio da Sociologia, é um fenômeno exterior ao indivíduo. Trata-se de algo geral e coercitivo com relação aos membros, que, de acordo com a bagagem cultural, fornecem significado, tendo um elemento polarizador, ensina Célio Antônio Pinheiro de Castro, em Sociologia Aplicada à Administração (p. 28).

            “O fenômeno social é produto da interação que se concretiza numa configuração – ambiente físico, complexo cultural e momento histórico -, alicerçado em valores e padrões, objetivando uma finalidade psicossocial, econômica, política, cultural, conectada com os papéis sociais dos participantes, tendo em vista não só a estabilidade estrutural, mas também as contínuas transformações e respectivos fatores”, salienta Castro (p. 28).

 

Configuração – ambiente físico, complexo cultural, momento histórico.

Objetivo – finalidade psicossocial, econômica, política e cultural.

Condições estruturais – valores e padrões, papéis sociais, estabilidade e mudanças.

 

            Qual é a importância disso? Conforme o caso, a Sociologia volta-se para dois temas principais, a estrutura e a mudança social. As inovações científico e tecnológicas junto aos processos produtivos têm efeitos multiplicados na estrutura e volume dos grupos de trabalho, na distribuição das categorias profissionais e na população economicamente ativa (PEA), explica Castro (p. 29). Não se pode ter uma visão puramente econômica do fenômeno social, sob pena de não se visualizar a realidade tal como ela é.

            Na Sociologia Aplicada à Administração, o complexo interativo é composto de sete fatores:

Quis? (Quem?) – sujeito – Seres Humanos.

Quid? (O que?) – objeto – Relações de trabalho: administração, produção, controle, execução, profissão, grupos, associações.

Ubi? (Onde?) – local – Organizações – Empresa.

Quando? (Quando?) – tempo – História / Hoje: dimensão temporal.

Cur? ( Por quê?) – causa – Porque das relações de trabalho na empresa advêm as condições para sobrevivência, bem-estar, atendimento e promoção da demanda de produtos, lucro, crescimento e expansão da empresa.

Quomodo? (Como?) – modo – Com estrutura e organização.

Quibus auxilis? (Com que meios?) – recursos – Com recursos humanos, instrumentais, financeiros, materiais, técnicos, voltados para todas as fases da produção, visando atender ao consumo e promovê-lo.

É salutar que cada sujeito participa de vários grupos, incluindo a sociedade total, desempenhando um papel conforme o status em cada um deles.

            Dessa maneira, Sociologia Aplicada à Administração estuda as organizações e os papéis que as integram, considerando o sistema social em suas manifestações morfológicas e significações funcionais, assevera Castro (p. 36).

            Nas organizações, os trabalhadores desempenham papéis profissionais e sociais de acordo com sua natureza, de maneira que se forme um subsistema econômico relacionado com outros subsistemas e com o sistema total, escreve Castro (p. 36).

            “Com o progresso das técnicas de produção, as empresas aumentaram em número e volume penetrando nas atividades sociais. O fortalecimento das associações de classe e dos sindicatos acentuou os conflitos entre patrões e empregados. Esse fatores – aliados à crescente importância da administração científica, decorrente principalmente do taylorismo – fizeram com que os sociólogos se voltassem para o estudo de grupos que se constituem devido às atividades do trabalho.” (CASTRO, 2012, p. 37)

            Num primeiro momento, a Sociologia voltou-se ao estudo dos fatos sociais, mormente a religião, o Direito, a moral e a Economia. No entanto, por ser impossível traçar leis para prever o direcionamento social, como queriam os pioneiros da sociologia, passou a estudar os grupos e as relações entre os indivíduos. Daí, surge as Sociologia Aplicada, com vários nomes, conforme o ramo: Sociologia Industrial, Sociologia do Trabalho, Sociologia da Administração, Sociologia das Organizações, por exemplo.

 

Leia mais:

CASTRO,  Celso Antônio Pinheiro de. Sociologia Aplicada à Administração. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012.